19 abril, 2007

Miopia acadêmica e o massacre em Virgínia Tech

Fox e Levin, co-autores do livro "Extreme Killing: Understanding Serial and Mass Murder" ("Assassinato Extremo: Entendendo o Homicídio Serial e em Massa", de 2005), em entrevista à Reuters sobre o massacre em Virgínia Tech, afirmam haver três tipos de vingança a motivar um assassino em massa:

Há a "vingança específica", em que as vítimas são escolhidas por supostamente terem alguma culpa. Por exemplo, o engenheiro de computação Michael McDermott matou sete funcionários da empresa em que trabalhava, em 2000, tendo como alvo específico o setor de recursos humanos.

Há a "vingança por categoria", em que grupos como mulheres, negros ou asiáticos são o alvo. Por exemplo, Marc Lepine matou 14 mulheres em 1989 numa universidade de Montreal, por considerar que as feministas haviam arruinado sua vida.

E há a vingança contra o mundo, com vítimas escolhidas ao acaso. Por exemplo, George Hennard em 1991 matou mais de 20 pessoas num restaurante do Texas. "Quanto mais indiscriminados são os assassinatos, mais provável é que a insanidade tenha tido um papel".

Não se pode esperar muito mais de um Pesquisador de Boston, que afirma que fofoca em ambiente de trabalho pode promover a união entre os funcionários e auxiliar na produtividade do profissional.

O que mais assusta nas conclusões do pesquisador é a leitura, contrário senso, de "Quanto mais indiscriminados são os assassinatos, mais provável é que a insanidade tenha tido um papel". Deveríamos então, considerar como arrazoada a dita “vingança específica” (aquela na qual o funcionário demitido volta à empresa e elimina o RH)?!

Razão não se confunde com motivo, senhor Fox. A primeira, constitui-se de motivo qualificado pela racionalidade, pelo bom senso. Razão, enquanto motor da ação ou omissão, é espécie, motivo é gênero. Motivo pode ser torpe, razão não.

Para encerrar, gostaria de citar uma matéria publicda no jornal esquerdista italiano Il Manifesto. Para o jornal, massacres desse tipo são "tão americanos quanto uma torta de maçã". Esta afirmação, a princípio, pode parecer exagerada. Mas está, de alguma forma, refletida nas conclusões miopes de acadêmicos americanos como Fox e Levin, que conseguem vislumbrar até alguma razão nos motores de tais atrocidades.

05 abril, 2007

Sobre meninas...

... fui conduzido à sala de custódia. As paredes sujas faziam um bom conjunto com duas fileiras de assentos, daqueles que ficam agrupados, três-a-três, comuns em salas de espera. Estavam sem o tecido de cobertura, o que deixava o estofamento à mostra e causava certo asco. Ela havia passado a noite ali, deitada naqueles assentos. Não parecia irritada, apenas bastante entediada. Talvez não tivesse pensado na Sala de Custódia quando decidiu levar aquela faca de mesa para a escola.

No cárcere ninguém parece tão mau - acho que só os curdos assistiram o enforcamenrto de Saddan sem sentir algum desconforto. Contudo, ela não causava pena, nem sentimento igualmente grave. É mais fácil consternar-se com um líder caído, com quem já teve tanto, que já foi alguém. Mesmo que seja um ditador tirano! Mas com ela?! Com sua história banal !?
Perguntei o que havia ocorrido, o que a tinha motivado, por que tanta violência. Ela se agitou. Explicou-me tudo, frenética, como se realmente houvesse alguma explicação razoável. Fatos são fatos, ela continuaria naquela salinha.

Certa vez ouvi na TV que o corpo humano tem a mesma consistência de um mamão verde. Pensei em perguntar a ela, mas desisti. Eu não havia imaginado a sala de custódia!

P.S.: Ela ficou animada ao ouvir sua história na TV.