05 abril, 2007

Sobre meninas...

... fui conduzido à sala de custódia. As paredes sujas faziam um bom conjunto com duas fileiras de assentos, daqueles que ficam agrupados, três-a-três, comuns em salas de espera. Estavam sem o tecido de cobertura, o que deixava o estofamento à mostra e causava certo asco. Ela havia passado a noite ali, deitada naqueles assentos. Não parecia irritada, apenas bastante entediada. Talvez não tivesse pensado na Sala de Custódia quando decidiu levar aquela faca de mesa para a escola.

No cárcere ninguém parece tão mau - acho que só os curdos assistiram o enforcamenrto de Saddan sem sentir algum desconforto. Contudo, ela não causava pena, nem sentimento igualmente grave. É mais fácil consternar-se com um líder caído, com quem já teve tanto, que já foi alguém. Mesmo que seja um ditador tirano! Mas com ela?! Com sua história banal !?
Perguntei o que havia ocorrido, o que a tinha motivado, por que tanta violência. Ela se agitou. Explicou-me tudo, frenética, como se realmente houvesse alguma explicação razoável. Fatos são fatos, ela continuaria naquela salinha.

Certa vez ouvi na TV que o corpo humano tem a mesma consistência de um mamão verde. Pensei em perguntar a ela, mas desisti. Eu não havia imaginado a sala de custódia!

P.S.: Ela ficou animada ao ouvir sua história na TV.

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