18 fevereiro, 2008

Carta a um novo amigo velho

Ah... chega um dia em que a ameixa deixa de ser uma fruta e passa a ser uma necessidade! Confesso, é muito prática, raramente gruda na dentadura. Nesses dias, seu peristaltismo sempre poderá ser usado como tema para começar uma agradável conversa na sala de espera da fisioterapia (não recomendo falar sobre sua artrite ou aquelas dores incertas, para não sugestionar os outros velhinhos – tenha o peristaltismo como ponto seguro para começar qualquer diálogo. É como falar sobre o clima quando se é jovem. Lembra?).

O grande macete, nesses serviços de saúde, é não dar bola para o fato de te tratarem como um retardado inepto que não entende nada do que estão lhe dizendo. Deixe que falem com você alta e pausadamente, mesmo que não esteja surdo ainda.
Não fique aborrecido. Não vale a pena se chatear com a truculência e má vontade das pessoas, nem se ofender com as críticas. É sério, ninguém tem que ter 100% de controle sobre seus esfíncteres. Se for pensar bem, pode até ser divertido. Nunca vão saber se você fez de propósito.

No finzinho da tarde, encontrar os amigos é sempre uma alegria - ao menos os vivos. Só recomendo um pouco de cuidado para que não se torne uma disputa sobre quem fez mais cirurgias - nem todos sabem perder e brigar, nessa altura, pode ser desastroso. Também é bom evitar perguntar sobre esposas - vai que já empacotou! Aproveite os encontros para se gabar, contar vantagens. Como aquela de que você tem funcionado só com meio diamante e que seu médico disse que a ponte vai aguentar.

Está provado, “a felicidade da juventude retorna na velhice”, caro amigo. Saiu na Veja (Fev 2008 – já aviso que requer algum esforço ou lupa, ficou difícil até pro meu neto ler!) e eles têm toda a razão. Fica fácil aceitar a vida quando é mais provável se recordar de um discurso de Getúlio Vargas do que do nome do atual presidente (que, convenhamos, não é digno de nota. Não por algo idôneo). Há que se considerar também, o enorme tempo livre, sem qualquer trabalho ou atividade que o substitua. Você irá dormir cada vez menos, o que vai garantir, mesmo aos mais aficionados ao circuito médico/banco, aquele tempão pra aproveitarmos a aposentadoria, enquanto somos ignorados pela família – aquele velho sonho da adolescência. E que aposentadoria!

Por isso, meu novo amigo velho, seja bem-vindo à MELHOR IDADE.

Ps.: Não vá se exceder nos narcóticos e lembre-se - Cálcio 4ever.

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